Araçariguama (SP) e o início da mineração no Brasil
Esta postagem foi publicada em 24 de abril de 2021 e está arquivada em Araçariguama.Quando falamos em minas de ouro no Brasil pensamos logo em Minas Gerais. Mas bem antes do Ciclo do Ouro, esse mineral já era explorado no estado de São Paulo.
Araçariguama (SP), localizada na Região Metropolitana de Sorocaba e também conhecida como o “Portal do Interior”, tem sua história ligada à exploração desse minério, já no século XVI.
Em 1590, o mameluco Affonso Sardinha, conhecido como Capitão-Mor de São Paulo de Piratininga, registrou ter encontrado ouro de lavagem nas proximidades do Morro do Vuturuna, sendo este o marco histórico da formação de Araçariguama.
Em dezembro de 1605, Sardinha ergueu uma capela aos devotos de Santa Bárbara ao pé do Morro do Vuturuna; nos arredores do local hoje conhecido como Morro do Cantagalo, onde se descobriu um vasto veio aurífero em Araçariguama.
Em 1844, Araçariguama foi desanexada de Santana de Parnaíba e incorporada à Vila de São Roque, de onde foi desmembrada em 1874.
A cidade foi, no passado, o maior ponto de extração de ouro de São Paulo. Isso nas décadas de 1920 e 1930.
Em 1926, a empresa “Saint George Gold Mine” obteve direito de exploração da mina do ouro, mas logo depois, em 1934, por meio de um decreto presidencial, Getúlio Vargas decidiu lacrar a mina, por desvio de minérios.
Neste mesmo ano, por decreto estadual, Araçariguama foi reduzida à condição de Distrito de Paz de São Roque, só recuperando sua autonomia político-administrativa em 1991.
Alguns anos mais tarde, com dificuldades financeiras, o canadense Raston, então proprietário da mina, precisou usá-la para pagar uma dívida com o empresário e político paulistano Antonio Cintra Gordinho e a mina acabou fazendo parte da fazenda São José, que já era de propriedade de Gordinho.
A fazenda ainda existe, possui 260 alqueires ao redor da Saint George, e pertence à Fundação Antonio Antonieta Cintra Gordinho, de Jundiaí (SP).
Atualmente, a mina fica em um parque municipal, o Parque da Mina, onde também estão localizadas a Capela de Santa Bárbara e o Museu da Mina, construído na antiga casa dos bandeirantes.
De acordo com matéria publicada no site da Prefeitura de Araçariguama, a área sofreu sucessivos desmoronamentos e a entrada da mina ficou encoberta por falta de manutenção e conservação. Foi encontrada em 2019, quando também teve início o trabalho de recuperação do chamado “Complexo Parque da Mina do Ouro”
O Tem Cidades esteve no local, encontrando-o fechado e as obras inacabadas. Solicitamos informações à Prefeitura que não respondeu até o fechamento da matéria (março 2021).
Além do Parque da Mina, outra atração de Araçariguama é a Praça Santos Dumont, onde existe um museu a céu aberto, com 22 esculturas. O museu foi criado em homenagem ao renomado artista plástico Lúcio Bittencourt, reconhecido internacionalmente por suas esculturas em sucata de metal.
Na mesma praça está a aeronave Vickers Viscont 58. Duas unidades desse avião foram trazidas ao Brasil para servirem como aviões de transporte presidencial e foram designadas como VC 90 2100 e VC 90 2101. Vários presidentes viajaram nessas aeronaves, que foram adquiridas para atender ao presidente Juscelino Kubitschek, sendo desativadas na gestão de João Batista Figueiredo.
O modelo 2100 foi comprado em um leilão da massa falida da VASP pela prefeitura do município de Araçariguama, por R$ 80 mil, e foi restaurado a um custo de R$ 20 mil. A aeronave foi instalada na Praça Alberto Santos Dumont, como atração turística, para homenagear os cem anos do primeiro voo do 14-Bis.
Antes de vir ao Brasil, a aeronave pertencia à empresa British European Airways, que transportava a família real inglesa.
Histórias e causos – O incrível homem que derreteu
Se a história de Araçariguama é muito rica, os causos contados pelos moradores não decepcionam. O mais conhecido é do “Incrível homem que derreteu”, que deu origem a um livreto com esse título.
A história teria se passado em 1946, com João Prestes Filho. João teria ido, com mais três amigos, pescar no Rio Tietê. Ao voltar, encontrou a casa vazia, pois sua esposa saíra. Aí os relatos divergem um pouco. Em alguns lugares dizem que a casa estava fechada e ele tentou entrar pela janela. Já segundo outros, ele teria entrado e, cansado, ido tomar um banho. Mas independente do local, o fato é que ele teria sido atingido por uma bola de fogo que lhe causou queimaduras gravíssimas. João teria, então, corrido até a casa de sua irmã, que morava na mesma rua, gritando por socorro e dizendo: a luz.
Ele ainda teria relatado ao delegado da cidade que não era nada desse mundo, que era algo invisível.
Encaminhado para um hospital em Santana do Parnaíba, faleceu algumas horas depois. O mais curioso que apesar das graves queimaduras nas mãos e no rosto, seu cabelo e suas roupas permaneceram intactos.
O laudo da necropsia apontavam que não havia vestígios de combustíveis ou sinais de fuligem e os pelos e roupas não haviam sido sequer chamuscados.
Até hoje, o caso não foi resolvido e permanece como um dos mistérios de Araçariguama.
Referências:
Câmara Municipal de Araçariguama. Disponível em <https://www.camaraaracariguama.sp.gov.br/municipio.html>. Acesso em 23.02.2021.
Cintra, Luiz Antonio. Mina de ouro “urbana” espera reativação. Folha de São Paulo – Mercado. Edição de 13.04.1997. Disponível em <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi130430.htm>. Acesso em 19.02.20201.
Prefeitura de Araçariguama. Disponível em <https://www.aracariguama.sp.gov.br/portal/noticias/0/3/315/mina-do-ouro-que-era-visitada-por-dom-pedro-tem-sua-entrada-principal-localizada-apos-ser-soterrada-em-aracariguama/>Acessado em 20.02.2021
Wikipédia. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Vickers_VC-90>. Acesso em 23.02.2021.
Megacurioso. Disponível em <https://www.megacurioso.com.br/misterios/117128-joao-prestes-filho-foi-derretido-por-uma-luz-em-aracariguama.htm>. Acesso em 14.03.2021.
Fotografias: Crossi Neto, Luiz
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