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FLONA de Ipanema e o início da siderurgia no Brasil

Esta postagem foi publicada em 24 de abril de 2024 e está arquivada em Araçoiaba da Serra (SP), Iperó (SP).

Foi no Morro de Araçoiaba que Afonso Sardinha instalou os primeiros fornos para fabricação de ferro, reconhecidos como a primeira tentativa de fabricação de ferro em solo americano.

Localizada entre as cidades de Iperó, Araçoiaba da Serra e Capela do Alto, a 120 km de São Paulo, a Floresta Nacional de Ipanema é duplamente importante: protege um remanescente de vegetação nativa de Mata Atlântica, especialmente o Morro Araçoiaba, e seus ambientes associados, e guarda patrimônios pouco conhecidos, mas muito importantes para a história não só do Brasil, mas das Américas.

A FLONA guarda testemunhos da história, com sítios arqueológicos anteriores à chegada dos colonizadores, que estão protegidos pela mata densa do Morro Araçoiaba.

A história da siderurgia brasileira começou aqui. No século XVI,  o português Afonso Sardinha e seu filho mameluco chegaram à região em busca de ouro e pedras preciosas, mas encontraram apenas minério de ferro.
Foram, então, construídas, em 1589,  duas forjas reconhecidas pela Associação Mundial de Produtores de Aço como a primeira tentativa de fabricação de ferro em solo americano.

Depois de algumas tentativas fracassadas, em 1810, Dom João VI assinou uma carta régia criando a Fábrica de Ferro Ipanema, a primeira siderúrgica brasileira, que se manteve ativa até 1895.
Foi contratado o sueco Carl Gustav Hedberg para dirigir o empreendimento.
Ele trouxe uma colônia de operários e construiu as forjas suecas para o tratamento do ferro, mas era um sistema precário que só preparava o metal para a fabricação de pequenos instrumentos de lavoura. Esse sistema não funcionava para a fundição de peças que exigiam grande resistência.

Hedberg foi responsável pela construção da represa no rio Ipanema, primeiro rio brasileiro a ser represado.
Mas em 1814, após problemas em sua administração, marcada por gastos excessivos e resultados insignificantes, foi demitido e substituído por Friedrich Ludwig Wilhelm Varnhagen, autor do projeto inicial da fábrica e que havia sido inicialmente preterido na escolha da direção.

Ipanema em 1821, litogravura de Augustin François Lemaitre

Varnhagen construiu os altos fornos nos quais fundiu três cruzes, comprovando o êxito da manipulação do ferro. Essas cruzes ainda existem.  A maior foi levada até o Morro de Araçoiaba, sendo assentada na chamada Pedra Branca. As outras duas cruzes foram colocadas uma na entrada da fábrica e outra na estrada que ligava a fábrica à cidade de Sorocaba.

Em 1821, devido a desentendimentos de ordem ideológica, Varnhagen pediu demissão.

A fábrica iniciou um processo de decadência até que, em 1834, o brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, presidente da Província de São Paulo, nomeou o major João Blóem como diretor da fábrica.

Blóem permaneceu na direção da fábrica até 1842, ocasião da Revolução Liberal, em Sorocaba. Ele apoiou os rebeldes chefiados pelo brigadeiro Tobias e não impediu a retirada de três canhões fundidos em Ipanema e que foram envolvidos na Revolução.
Blóem acabou sendo preso, por ordem de Duque de Caxias, e destituído do cargo de diretor da fábrica, que caiu novamente em abandono.

Após várias administrações mal sucedidas, em 1860 a fábrica foi dissolvida e o governo ordenou que se fundasse outra no Mato Grosso – projeto esse que não avançou.
Com o início da Guerra do Paraguai,  em 1865,  o plano da mudança foi abandonado, pois havia a necessidade de se colocar o maquinário em funcionamento com urgência para produzir material bélico. Essa foi a época em que Ipanema mais produziu ferro.

Em 1895, já sob o governo republicano, as atividades siderúrgicas foram definitivamente encerradas. A fábrica foi fechada oficialmente pelo presidente Hermes da Fonseca, conforme o Decreto nº 9.757, de 12 de setembro de 1912.
Em 1895 a propriedade foi transferida para o Ministério da Guerra e se transformou em quartel e depósito.

A partir de 1926 foi iniciada a exploração de apatita no morro, perdurando até 1943.

Em 1937,  a área foi transferida ao Ministério da Agricultura, CETI/CENTRI (Centro de Ensaios e Treinamento de Ipanema) que realizou ensaios com sementes e máquinas agrícolas.

Forno Varnhagen, à esquerda

Já na década de 1950 iniciou-se a exploração de calcário para produção de cimento, autorizada por decretos de lavra (Fábrica de Cimento Ipanema – Ciminas), atividade que foi encerrada no fim da década de 70.

 

A Floresta Nacional

Em 20 de maio de 1992, foi criada, pelo Decreto Federal nº 530, a Floresta Nacional de Ipanema – uma unidade de conservação federal, atualmente administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, ICMBio, do Ministério do Meio Ambiente.
Ocupando uma área de 5.180,00 ha., a FLONA de Ipanema possui uma rica biodiversidade, com mais de 354 espécies de aves, 75 de mamíferos, 38 de anfíbios, 27 de répteis e 37 de peixes. Dentre as espécies mais importantes para conservação, destacam-se: lobo-guará, onça parda, tamanduá-bandeira, jaguatirica, cachorro-do-mato e urubu-rei.

Com sorte, podemos avistar alguns animais durante  visita. Não chegamos a ver, mas um funcionário da FLONA nos disse que uma cobra havia cruzado a estrada um pouco antes de passarmos.

Uma figura enigmática

Durante a visita à FLONA também é possível conhecer a história de uma figura enigmática: Giovanni Maria de Agostinho, o monge de Ipanema.

Nascido na Itália, em 1844, Agostinho pediu permissão para residir nas matas do Morro Araçoiaba, nas imediações da Fábrica de Ferro Ipanema.

Ali viveu como eremita,  passando segundo conta a tradição, dias nas mais duras penitências, assombrando a todos, tanto por sua vida austera como pelos seus conselhos cheios de sabedoria.
A gruta onde o monge habitava, no Morro Araçoiaba, pode ser visitada em uma das trilhas oferecidas na FLONA.

Atrativos

Sítio Histórico

Da fase siderúrgica de Ipanema restam hoje alguns monumentos restaurados, como a Casa de Armas Brancas, o casarão da sede, a serraria, o portão homenageando a maioridade de Dom Pedro II, as primeiras cruzes fundidas em 1818, o monumento a Francisco Varnhagen e os fornos de Frederico Varnhagen e Joaquim Mursa. Em contrapartida, ainda há prédios que precisam de recuperação.
Há também uma área de lazer.

O sítio histórico e a área de lazer estão na Zona de Uso Público e podem ser visitados sem acompanhamento de guias.
A Flona também oferece quatro percursos auto guiados para ciclismo, corrida e caminhada: Morro Araçoiaba (20km); Rio Ipanema (15km), dos Jequitibás (10km) e da ACADEBio (5km). Neles o visitante terá a possibilidade de, além de praticar atividade física ao ar livre, observar a vida silvestre, áreas florestais em regeneração natural e induzida, vegetação de mata atlântica e de cerrado, afloramentos rochosos, o Monumento a Varnhagen, plantios de eucalipto, lagos artificiais, mata ciliar dos rios Verde e Ipanema, Represa Hedberg e demais paisagens do Sítio Histórico.
As demais áreas de visitação estão localizadas em áreas classificadas como Zona Primitiva e só podem ser feitas com acompanhamento de monitores autorizados. São elas:

Trilha Afonso Sardinha
As ruínas dos Fornos de Afonso Sardinha podem ser visitadas no percurso de caminhada da trilha que recebe seu nome.  Com 1.600 metros de extensão, acompanha um trecho do Ribeirão do Ferro em meio à Mata Atlântica e é considerada fácil.

Trilha Fornos de Cal
Da trilha Afonso Sardinha sai também a Trilha Fornos de Cal (1.500 m de extensão), que passa por riachos e trechos de Mata Atlântica. É possível visitar, durante o passeio, as ruínas dos fornos de cal do século XIX. A trilha é de nível médio de dificuldade.

Trilha Pedra Santa
A Gruta do Monge, Cruz de Ferro da Pedra Branca e o Monumento a Varnhagen podem ser visitados através do percurso de caminhada da Trilha Pedra Santa, com um trajeto de aproximadamente 6 quilômetros de extensão. Apesar de poder ser acessado por rota alternativa, inclusive de carro (com acompanhamento de condutores de visitantes), o Monumento à Varnhagen é o ponto final da Trilha Pedra Santa, sendo visitado em seu percurso. A trilha é considerada de nível médio de dificuldade.

A Floresta Nacional de Ipanema não dispõe de serviço próprio de condução de visitantes. Este serviço é adicional (independente do pagamento de ingresso) e deve ser contratado pelos visitantes que tenham interesse em conhecer essas trilhas.

 

Endereço:

Os dois principais acessos à Flona são pelo Km 99-B da Rodovia Castello Branco (SP-280), passando a cidade de Sorocaba (entrada pela Portaria 1 – coordenadas geográficas 23º 25′ 24″ S / 47º 35′ 45″ O), ou pelo Km 112 da Rodovia Raposo Tavares (SP-270), antes da entrada de Araçoiaba da Serra (entrada pela Portaria 2)

Horário de funcionamento:
de terça a domingo, com entrada das 08h00 às 15h00 e saída até 17h00, para visitas espontâneas e visitas de grupos, escolas e universidades pré-agendados.

 

Fotos: Luiz Crossi Neto

 

Referências:

 ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.  Disponível em https://www.icmbio.gov.br/flonaipanema/. Acesso em 15.04.2024.

Prefeitura do Município de Iperó (SP). Disponível em https://ipero.sp.gov.br/nossa-cidade/cultura-e-diversao/floresta-nacional-de-ipanema. Acesso em 16.04.2024.

 

 

 

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